sábado, 31 de maio de 2014

ACONTECIMENTOS DO MUNDO CRISTÃO


O CONHECIMENTO EXAUSTIVO DE DEUS SOBRE O FUTURO



por John Frame

 
[...] A responsividade divina observada nas Escrituras não nos refuta a crença no decreto eterno e na presciência exaustiva de Deus. Mas a Escritura dá testemunho da presciência eterna de Deus?

A Escritura tipicamente nos mostra o conhecimento de Deus sobre o futuro através do fenômeno da profecia. Um aspecto da profecia é a predição de eventos futuros. Além disso, uma evidência que revela um verdadeiro profeta é que suas predições sobre eventos futuros deve ser verdadeira (Dt 18.22). Em Isaías, Deus desafia os deuses das outras nações a predizerem o futuro, sabendo que somente ele é capaz de fazer isso (Is 41.21-23; 42.9; 43.9-12; 44.7; 46.10; 48:3-7).
Os teístas relacionais concordam que há um elemento preditivo na profecia, mas insistem em que esse elemento preditivo não implica que Deus tenha presciência exaustiva. Para mostrar isso, eles enumeram três tipos de profecia:
Uma profecia pode expressar a intenção de Deus em fazer alguma coisa no futuro, independente da decisão da criatura. Se a vontade de Deus é a única condição exigida para que alguma coisa aconteça, se a cooperação humana não está envolvida, então Deus pode garantir seu cumprimento de forma unilateral e pode anunciar esse cumprimento com antecedência... Uma profecia também pode expressar o conhecimento que Deus tem de que alguma coisa acontecerá porque as condições necessárias para isso foram cumpridas e nada pode evitá-la. Na época em que Deus predisse a Moisés o comportamento de Faraó, o caráter desse governante era tão rígido que seu comportamento era totalmente previsível... Uma profecia também pode expressar o que Deus quer fazer se certas condições forem cumpridas. 
Eu concordo que na Escritura há profecias de todos esses tipos. Eu discuti acima as profecias condicionais, e é claro que eu admito que Deus pode anunciar suas próprias ações independentemente da decisão das criaturas. O segundo tipo de profecia que Rice menciona deve ser problemático para os teístas relacionais, porque (como foi mencionado anteriormente com relação à interpretação deBoyd sobre Judas) ela sugere que algumas decisões humanas (a decisão de Faraó, na citação de Rice) são moralmente responsáveis, muito embora elas claramente não sejam livres no sentido libertarista. É estranho ver os teístas relacionais falando em “condições necessárias” para o comportamento de uma pessoa e usando termos como “rígido” e “totalmente previsível” – linguagem determinista em apoio à posição libertarista! É claro que, para os teístas relacionais, Faraó e Judas se endureceram antes de seu endurecimento se tornar irreversível, isto é, uma vez que o endurecimento surgiu, Deus fez com que essas pessoas fossem responsáveis por ações que não podiam ser evitadas.
Eu creio, contudo, que, além das profecias desse tipo, há outros tipos que (1) não afirmam simplesmente as intenções divinas, mas dependem, para seu cumprimento, das escolhas humanas; (2) implicam em que as decisões de Deus determinam as escolhas humanas; e (3) não são meramente condicionais.
Considere, como exemplos, as antigas profecias da história do povo de Deus, dadas por Deus a Noé (Gn 9.26, 27), Abraão (Gn 15.13-16), Isaque (Gn 27.27-  29, 39, 40), Jacó (Gn 49.1-28), Balaão (Nm 23 – 24) e Moisés (Dt 32.1-43; 33.1-29). Aqui Deus anuncia (de forma categórica, e não condicional), com muitos séculos de antecedência, o caráter e a história dos patriarcas e de seus descendentes. Essas profecias antecipam incontáveis decisões livres de seres humanos, muito tempo antes que qualquer um dos envolvidos tivesse tempo de formar seu caráter.
Em 1Samuel 10.1-7, o profeta Samuel diz a Saul que, depois que deixa Samuel, encontrará três homens, e mais adiante um grupo de profetas. Samuel lhe diz precisamente o que os três homens levarão e quais serão os acontecimentos da jornada. Através de Samuel, Deus claramente antecipa em detalhes as decisões livres dos homens e profetas sem nome, tanto quanto os eventos da jornada. Compare um registro semelhantemente detalhado dos movimentos de um inimigo de guerra em Jeremias 37.6-11.
Em 1Reis 13.1-4, Deus, através do profeta, diz ao ímpio rei Jeroboão que levantará um rei fiel, chamado Josias. Essa profecia foi feita três séculos antes do nascimento real do rei Josias. Compare referências em Isaías 44.28 – 45.13 ao rei persa Ciro aproximadamente um século antes de seu nascimento. Muitos casamentos, muitas combinações de esperma e óvulo, muitas decisões humanas foram necessárias para que esses indivíduos fossem concebidos, nascessem, assumissem o trono e cumprissem essas profecias. Esses textos pressupõem que Deus sabe como todas essas contingências serão cumpridas. O mesmo é verdade com relação a Jeremias 1.5, onde se diz que Deus conhecia Jeremias antes que ele estivesse no ventre materno e o designou para ser um profeta. Compare também a conversa entre Elias e Hazael da Síria, em 2Reis 8.12, e a detalhada cronologia futura em Daniel 9.20-27 sobre a vida dos impérios e a vinda do Messias. 

A Escritura não é duvidosa ao mostrar como Deus consegue esse conhecimento extraordinário. Deus conhece, como eu disse anteriormente, porque ele controla todos os eventos da natureza e da história por seu próprio plano sábio. Deus faz tudo de acordo com sua sabedoria (Sl 104.24) e realiza tudo de conformidade com o propósito de sua vontade (Ef 1.11). Portanto, Deus sabe tudo sobre as estrelas celestiais (Gn 1.15; Sl 147.4; Is 40.26; Jr 33.22) e sobre os menores detalhes do mundo natural (Sl 50.10, 11; 56.8; Mt 10.30). “Deus o sabe” é uma forma de expressão semelhante a um juramento (2Co 11.11; 12.2, 3) que garante a verdade das palavras humanas sobre o pressuposto de que o conhecimento de Deus é exaustivo, universal e infalível. O conhecimento de Deus é conhecimento absoluto, uma perfeição pela qual ele deve ser louvado (Sl 139.17, 18; Is 40.28; Rm 11.33-36).  

Dessa forma, “Deus conhece todas as coisas” (1Jo 3.20) e  

Não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4.13).  

Esse conhecimento inclui o conhecimento exaustivo do futuro? Considerando a inadequação dos argumentos dos teístas relacionais, a forte ênfase da Escritura sobre o conhecimento exaustivo de Deus sobre o futuro e o ensino bíblico de que o plano de Deus abrange toda a história, nós devemos dizer que sim.

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Fonte: Eu não sei mais em quem eu tenho crido - Douglas Wilson (org.) - São Paulo: Cultura Cristã, 2006. Págs. 79-81
Do blog Bereianos.

CONVULSÃO CALVINISTA


No ano de 2009 conheci a favela. Um menino pobre de apenas quinze anos de idade, que não tinha envolvimento com o tráfico de drogas, havia sido morto com um tiro na testa desferido por um policial do BOPE numa operação na favela Mandela, na Zona Norte do Rio.

Decidi, naquele dia, fazer um protesto dentro da comunidade pobre, numa região que, devido ao histórico de violência, chamava-se Faixa de Gaza. Terror dos policiais cariocas. Conseguimos levar toda a imprensa para lá, procurando dar voz ao pobre e combater o abuso de poder. Não tardou que, após chegarmos ao local, viesse a notícia de que estávamos autorizados a entrar na favela. Naquele dia passei pela minha segunda conversão.

Ao colocar os pés naquela aberração social, infestada de esgoto e ratazana, repleta de crianças vivendo em estado de miséria aviltante, sem mencionar aquilo sobre o que só poderei falar daqui a 20 anos, minha teologia convulsionou. Lá estava eu, -pastor de uma igreja presbiteriana, plantada por mim na década de 90, num bairro de classe média alta do Rio de Janeiro, herdeiro consciente de uma tradição teológica do cristianismo chamada calvinismo, à qual abraçara apaixonadamente na minha juventude-, num mundo novo e perturbador.

Cumpriu-se a profecia. A cabeça pensa a partir de onde pisamos. Perguntas emergiram à minha mente.

1. O que o meu calvinismo tem a dizer sobre essa realidade? Quê leitura fazer sobre a miséria desse povo? Como chegou aqui? O que se pode fazer para livrá-lo dessa condição? Como manter meu antigo modelo ministerial, inspirado na vida de pregadores que até hoje amo, caracterizado pela dedicação à preparação de sermões, aconselhamento pastoral, pregação?

2. Como posso manter-me atrelado a um modelo de ministério pastoral que me impede de viver a vida que o próprio Cristo viveu, que é apresentado na Bíblia, andando? Andando! Estando presente sempre onde mais havia demanda de compaixão. Em busca de gente que gemia de dor sem ser ouvida.

3. Pode-se conceber à luz das Escrituras igreja que não se sinta chamada para cuidar dos miseráveis da terra, para os quais Cristo dedicou quase a totalidade da sua vida? É concebível igreja que não tenha chamado para o pobre?

4. Como resumir o exercício do amor à evangelização e à filantropia nas ocasiões em que a ação política é imprescindível para livrar vidas humanas do seu estado de petição? Qual igreja pode trazer saneamento básico para essa favela? Como evitar que crianças levem tiro na cabeça em tiroteio entre policiais e traficantes? Como reformar esse mar de barracos? Como cuidar das suas doenças respiratórias e de pele? Como manter esses jovens na maior parte do tempo em escolas que os encantem? Deus, existe, portanto, o amor político?

5. O evangelho tem que ser proclamado por um igreja santa. Certo! Mas, o que é ser santo? Pode o santo tomar conhecimento desse cenário de horror na sua cidade e permanecer indiferente? Milhões não ouvem cristãos adúlteros, mentirosos, mercenários. Sabemos disso! Mas, o que falar daqueles que se escandalizam com a omissão da igreja face a tamanha desgraça social?

Nunca mais saí da favela. Meu calvinismo, aquele que procura obediência a Cristo, me fez permanecer ali, assumindo todas as conseqüências da minha decisão.

Ganhei outra Bíblia. Nela, vejo pobre por toda parte. Percebi um novo princípio ético, o amor que antecede a evangelização e a luta pela justiça social. Aprofundei meu conceito de missão. Hoje, entendo que a missão da igreja é amar. Amar com amor simétrico, harmonioso, lindo e santo, no qual todas as virtudes atuem em conjunto.

Procurando compreender a realidade da favela à luz do evangelho, ficou claro para mim que leitura de viés ideológico de esquerda ou de direita não dá conta daquela realidade. Passei a ver as influências do marxismo e do liberalismo econômico dentro da igreja como profundamente deletérias da missão cristã no mundo, uma vez que produzem romantismo e desumanidade. A Bíblia ensina que o homem pode ser tanto responsável pela sua miséria quanto vítima de um modelo político-econômico de opressão.

Em suma, o Brasil deveria levar todos os cristãos a formularem e responderem a seguinte pergunta: o que significa ser cristão num país de miséria e desigualdade social? Na Alemanha de Hitler, a pergunta era outra: o que significa ser cristão no Estado nazista?, nos Estados Unidos de Martin Luther King, o dilema tinha característica bem distinta: como viver num país no qual crianças negras não podem beber água em bebedouro reservado para crianças brancas? O que o Espírito Santo está perguntando hoje aos cristãos brasileiros?

Amigo, quer encontrar a Deus? Encontre-o no pobre.

Antônio C. Costa

Ps. Crianças da favela do Jacarezinho.

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Fonte: Palavra Plena. Divulgação: Púlpito Cristão.
MALANDRO É MALANDRO, MANÉ É MANÉ




Um dos hits mais cantados no Brasil  é a canção de Bezerra da Silva, Malandro é malandro, mané é mané. Nela, nitidamente encontramos uma clara apologia a típica malandragem que domina a cultura brasileira.
A canção em questão me fez lembrar uma propaganda vinculada em rede de televisão na década de 70, na qual o ex-jogador da seleção brasileira, Gérson era o protagonista. A propaganda dizia que certa marca de cigarro era vantajosa por ser melhor e mais barata que as outras, e no final Gérson dizia:"Você também gosta de levar vantagem em tudo, certo?”
Com o passar dos anos a propaganda captou um elemento de identificação que estava no imaginário popular, acredita Maria Izilda Matos, historiadora e pesquisadora da boemia. O jargão usado na época se transformou então naquilo que hoje denominamos de lei de Gerson, a qual passou a funcionar como mais um elemento na definição da identidade nacional e o símbolo mais explícito da nossa ética ou falta dela.
Infelizmente nossa sociedade encontra-se tão adoecida, que para atingir os seus objetivos se faz "qualquer negócio" Na verdade, parece que vivemos debaixo de uma síndrome, onde o que é importa é prevalecer sobre o outro, independente de que pra isso precisemos atropelar conceitos, princípios e vidas.
Caro leitor, como cristãos somos desafiados a não vivermos segundo as regras deste sistema. De maneira alguma podemos permitir que valores antiéticos e amorais conduzam nossas vidas.
Na perspectiva bíblica jamais nos será permitido negociarmos o inegociável, nem tampouco, instrumentalizarmos as pessoas com vistas ao nosso sucesso pessoal. Os pressupostos do reino nos motivam a vivermos uma vida justa, reta e equânime, onde nem sempre venceremos.
Pense nisso!

Renato Vargens

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